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Sem medo da crise

Diário do Comércio – Thais Ferreira – 24/04

Mesmo quando a economia não vai bem, é possível encontrar boas oportunidades de negócios. Os irmãos Chiavenato estão apostando na crise para crescer

Virou jargão no mundo empresarial dizer que as crises são oportunidades para quem sabe aproveitar o momento. Muito mais do que uma frase motivacional para empreendedores, a premissa é verdadeira.
Num período em que a economia encolhe e os consumidores desaparecem, alguns empresários se apavoram. Por outro lado, alguns ficam atentos aos novos hábitos de consumo e enxergam boas chances de crescer ou abrir novos negócios. É o famoso: enquanto uns choram, outros vendem lenços.

No auge da crise econômica de 2008, o McDonald’s, por exemplo, registrou um aumento de 7,7% nas vendas – só nos Estados Unidos o crescimento foi de 4,5% em relação a 2007. Num período em que todo o mercado americano de alimentos sentia as consequências da redução do consumo, a rede de lanchonetes fast food conseguiu uma verdadeira proesa.

O segredo para esse resultado positivo foi o “Dollar Menu”, uma relação de lanches, sorvetes e biscoitos que eram vendidos pelo valor de US$ 1 – preço bastante convidativo para quem precisa conter gastos.

O e-commerce espanhol Privalia, que tem operações em diversos paises entre eles o Brasil, também consegue lucrar quando a economia não vai bem. A empresa compra os estoques de roupas e acessórios encalhados de grandes marcas, como Via Uno, Morena Rosa e Abercrombie, e vende para o consumidor a preços reduzidos.

Ou seja, em tempos de crise, quando os varejistas não conseguem vender, a Privalia faz a festa. Além de ter mais produtos disponíveis, o outlet online se torna uma boa alternativa para os consumidores que perderam poder de compra. Em 2014, a empresa faturou 400 milhões de reais – 19% a mais do que no ano anterior.

O que o McDonalds e a Privalia têm a ensinar é que não dá para ficar de braços cruzados durante uma crise e esperar um momento melhor para abrir um negócio ou para crescer.

Para onde olhar

A maioria dos consultores acredita que pior do que a situação econômica é a falta de confiança dos consumidores, por isso muitos preferem reduzir custos. “Os clientes não vão deixar de consumir. Durante uma crise, há uma mudança de hábitos ou corte de produtos que são considerados supérfluos. É o momento em as pessoas preferem dar lembrancinhas, ao invés dos presentões”, afirma Adriano Augusto Campos, consultor do Sebrae-SP. “Muitas empresas conseguem crescer porque se adaptam a essa situação. Algumas, por exemplo, oferecem os mesmos produtos em embalagens menores e com preços mais acessíveis”.

Para quem está planejando empreender esse ano, Campos aconselha uma análise mais criteriosa de onde e como investir. “Está difícil conseguir crédito, por isso é importante planejar cada passo do crescimento.É a época de evitar os riscos.”

A palavra de ordem é não se render ao pessimismo e procurar entender quais são as necessidades dos consumidores nesse período. Ao invés de comprar um carro novo, é provável que mais pessoas estejam dispostas a fazer melhorias em seus veículos, por exemplo.

“Existem boas oportunidades em tempos de crise, alguns mercados são beneficiados nesses períodos, como os setores relacionados a manutenção de carros e casas e as áreas de seguros”, afirma Paulo Vicente Alves, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral.

Apostando na crise

Um dos setores que prometem crescer com a atual crise é de alimentação dentro dos lares. De acordo com a “Pesquisa Preço Médio 2015”, um almoço com bebida, sobremesa e café custam em média R$ 27,36 ao dia. No fim do mês, o valor pode chegar a R$ 601,92 – o equivalente a 76,4% do salário mínimo nacional. “A tendência é que as pessoas reduzam o número de vezes em que comem fora”, diz Alves.

De olho nesses consumidores e nessa oportunidade, os irmãos Rodrigo e Ronaldo Chiavenato criaram a Mundo Cheff – uma rede de lojas que vende utensílios de cozinha, como talheres e panelas. Os preços são bastante atrativos: é possível achar itens a partir de R$ 2,90. “As pessoas estão evitando comer fora de casa por causa dos preços cada vez mais caros. Acreditamos os consumidores irão comprar nossos produtos para conseguir preparar uma comida especial sem ter gastar muito”, diz Rodrigo Chiavenato. “Além disso, cozinhar se tornou um programa em que se os amigos e familiares se reúnem na cozinha.”

A primeira loja própria foi fundada há um ano e meio e o próximo passo é expandir o negócio através de franquias. “Criamos um modelo compacto em que o investimento inicial é de R$ 200 mil, os produtos têm alta rotatividade e o valor é recuperado em 24 meses”, diz Rodrigo Chiavenato. As lojas são pequenas, com 50 metros quadrados, e necessitam apenas de um funcionário, além do próprio franqueado. A meta dos irmãos é lançar dez lojas da marca ainda nesse ano.

De acordo com a consultora Anna Vecchi, da consultoria Vecchi Ancona, o momento é propício para a expansão de uma rede de franquias. “Muitas pessoas que perdem seus empregos durante um período de crise preferem investir numa franquia”, afirma Anna “A ideia de se tornar seu próprio patrão é mais tentadora do que voltar para o mercado de trabalho pouco favorável.”