O futuro é hoje

O futuro é hoje

A pandemia de coronavírus acelerou tendências e provocou muitas transformações, inclusive na forma de consumir. A expert em Futuro da WGSN, Daniela Penteado, analisa o tema

O mundo já vinha passando por muitas transformações nos últimos anos, mas a pandemia do novo coronavírus acelerou todos os processos, e a uma velocidade inimaginável.

Assim, diversas tendências que estavam previstas para surgirem ao longo da próxima década passaram a fazer parte do dia a dia da população e das empresas em questão de semanas.

Com tantas mudanças, mais do que nunca, tornou-se primordial para as marcas conhecerem os desejos e as necessidades dos consumidores e se adaptar a eles.

Caso contrário, tendem a perder mercado, valor e até a desaparecerem.

Na entrevista a seguir, a expert em Futuro da WGSN, empresa de previsão de tendências, Daniela Penteado, faz uma análise do que aconteceu em 2020, revela quais as principais novidades que ainda devem ocorrer e como as companhias devem se preparar para elas.

Com a pandemia, o mundo mudou a uma velocidade jamais vista. O quanto as tendências previstas para surgirem nos próximos cinco ou dez anos foram aceleradas?

Foram muito aceleradas. Várias das nossas previsões para a década já apareceram no ano passado, como comidas congeladas e a casa como um novo hub.

Eram tendências que estávamos prevendo para desenrolar até 2030 e já passamos a conviver com elas no primeiro ano da década.

Agora, o trabalho da WGSN é exatamente ver como a aceleração dessas tendências impactará nas próximas previsões de futuro.

Quais transformações foram mais intensas e perceptíveis nos últimos meses? E em quais áreas?

A pandemia impulsionou o e-commerce, desafiando os varejistas a identificarem estratégias únicas para melhorar a experiência on-line, digitalizando serviços personalizados, criando soluções para a experimentação virtual de produtos e desenvolvendo showrooms interativos em parcerias com aplicativos e plataformas de mídia social.

Nesse período, as categorias não prejudicadas pela recessão foram as de produtos alimentares, cuidados pessoais e cosméticos, álcool e mercado infantil, e as que mais saíram ganhando foram videogames, jogos de celular, roupas confortáveis, entretenimento por streaming, decoração e melhorias para a casa.

Os hábitos de consumo também foram completamente transformados. Como as indústrias e o varejo podem se adaptar a isso?

A saúde e o bem-estar têm sido uma prioridade crescente dos consumidores há um bom tempo, mas a Covid-19 trouxe uma nova dimensão para isso.

Não só as pessoas têm um novo cuidado constante quando se trata de higiene e segurança, mas uma nova atitude em relação ao bem-estar psicológico também está no topo das prioridades.

As marcas vão ter que incorporar isso em tudo, desde o desenvolvimento de design e de produto até as estratégias on-line e de marketing.

As campanhas e as iniciativas empáticas voltadas para a comunidade vão ajudá-las a conquistar fidelidade e gerar otimismo em épocas difíceis.

É importante investir em estratégias que contribuem para um bem maior da sociedade para provar que a empresa está disposta a continuar ajudando durante todo o processo.

Além de saúde e bem-estar, o que mais o consumidor deseja e busca agora?

A pandemia global tem alterado dramaticamente a rotina diária das pessoas, e deixará resquícios quando a vida ‘normal’ voltar.

Em meio a dias que fluem sem estrutura definida, as pessoas estão buscando cada vez mais rotinas que possam ajudá-las a se manterem estruturadas e equilibradas física e emocionalmente.

Esses consumidores estão abraçando novas atividades e retornando às antigas para recuperar o senso de normalidade.

Para lidar com a crescente ansiedade, as pessoas também estão focando em criar hábitos holísticos e definir cada vez mais limites rígidos entre trabalho e vida dentro de casa.

Quais produtos e serviços surgiram e quais ainda devem surgir para atender as novas demandas?

As atividades em família que geram engajamento e empatia estão agradando pais sobrecarregados.

Já as experiências virtuais abrem novas oportunidades para socializar, entreter e aprender conforme as pessoas focam na reflexão e no autoaperfeiçoamento.

Como as empresas devem se preparar para atender um consumidor que não tem certeza sobre como será o futuro?

As empresas precisarão adaptar suas estratégias para serem mais conscientes, e não apenas do estado emocional em mudança dos consumidores, mas também para manter o bem-estar de seus funcionários e parceiros de negócios, agindo sempre com empatia.

Elas devem mostrar respeito pelo estado emocional atual da pessoa, onde ela está enfrentando um futuro que parece sombrio e incerto, validar essa tristeza, mas fornecendo oportunidades para otimismo e esperança, contar histórias sobre o futuro que geram esperança por meio de estratégias de desenvolvimento sustentável e usar a criatividade para pintar um quadro de como pode ser uma versão positiva do futuro.

Estudos citados pelo World Happiness Report mostram que os consumidores se sentem mais felizes quando se envolvem em compras pró-sociais.

Por isso, é importante que as empresas se envolvam em atos que ajudem a criar boa energia, apoiando os problemas que o seu grupo de consumidores mais considera relevante.

O que mais tem feito diferença na decisão de compra na atualidade?

Para os consumidores, estratégias baseadas na diversidade, na inclusão, na sustentabilidade, na educação e no conhecimento são bem importantes. Esses são os pilares básicos para as empresas montarem as suas estratégias, principalmente em um ambiente de consumo onde eles são inegociáveis.

À medida que a incerteza em relação ao futuro crescer, a população priorizará marcas e empresas que lhes tragam segurança.

Essa revisão de valores ocorreu junto da aceleração dos modelos digitais, já que o isolamento social nos mostrou a rapidez com que o mercado consegue se adaptar às demandas on-line.

Todas essas mudanças são irreversíveis ou alguns retornos acontecerão quando for possível retomar a vida normalmente?

Na era pós-coronavírus as pessoas vão continuar a fugir do estilo de vida acelerado e abraçar os pequenos prazeres que descobriram durante esse período.

Por estarem ansiosas para voltar à rotina normal, os produtos e serviços que as ajudam a usar o seu tempo de forma mais consciente vão atraí-las.

Em quais estratégias as empresas devem investir para não perderem mercado?

Elas devem estar preparadas para ser responsabilizadas por práticas relacionadas à diversidade, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, apostar no crescimento da rede de fornecedores das comunidades, em funcionários que atendam os clientes fora das lojas e na capacitação de pessoas locais para fomentar a economia dentro da sua comunidade e melhorar a conexão social por meio de estratégias que conectam as pessoas umas às outras.

A “economia sem contato” está redefinindo as estratégias de venda, priorizando a agilidade, a higiene e o distanciamento, mas sem abrir mão de uma experiência de varejo interessante.

Como isso está sendo possível?

Novas tecnologias estão ajudando a construir esse novo cenário, usado pelos varejistas para criar uma jornada segura e fácil, tanto na loja física quanto nos canais on-line. E

les estão aplicando recursos de inteligência artificial (IA), realidade aumentada (RA) e de biometria em interfaces, vitrines, mobiliário e sinalização para proporcionar uma jornada de compra homogênea e segura, atendendo um consumidor focado e que está acostumado a comprar em diversos canais.